COVID-19 | Prejuízo do setor aéreo deve atingir US$ 84 bilhões em 2020
- sexta-feira, junho 12, 2020
- By Nicole Regiane
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A Associação Internacional de Transporte Aérea anunciou suas perspectivas financeiras para o setor de transporte aéreo global, mostrando que as companhias aéreas devem apresentar prejuízo de US$ 84,3 bilhões em 2020 e margem de lucro líquido de -20,1%.
As receitas devem ter queda de 50%, atingindo US$ 419 bilhões, em relação a US$ 838 bilhões em 2019. Em 2021, as perdas devem ser menores, chegando a US$ 15,8 bilhões, enquanto as receitas devem aumentar e atingir US$ 598 bilhões.
"Em termos financeiros, 2020 será o pior ano da história da aviação. Em média, cada dia deste ano representa US$ 230 milhões de perdas do setor, totalizando um prejuízo anual de US$ 84,3 bilhões. Isso significa que, com base na estimativa de 2,2 bilhões de passageiros neste ano, as companhias aéreas perderão US$ 37,54 por passageiro. É por isso que o alívio financeiro dos governos continua sendo crucial, pois as companhias aéreas estão usando sua reserva de caixa", disse Alexandre de Juniac, diretor-geral e CEO da IATA.
"A não ser que ocorra uma nova onda de COVID-19 ainda mais devastadora, acreditamos que provavelmente a pior fase do colapso no tráfego já passou. Um aspecto fundamental para a recuperação é a implementação universal das medidas de retomada recomendadas pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) para manter os passageiros e a tripulação seguros. E, com a ajuda de um sistema eficaz de rastreamento de contato, as medidas devem dar aos governos a confiança necessária para abrir fronteiras sem as restrições de quarentena. Essa é uma parte importante da recuperação econômica, porque cerca de 10% do PIB mundial é proveniente do turismo e boa parte dessa porcentagem depende de viagens aéreas. Fazer com que as pessoas voem com segurança novamente será um forte impulso econômico", disse de Juniac.
Principais fatores das estimativas de 2020:
A demanda de passageiros desapareceu quando as fronteiras internacionais foram fechadas e os países adotaram o lockdown para impedir a propagação do vírus. Esta é a principal causa das perdas do setor. No ponto mais baixo em abril, as viagens aéreas globais ficaram cerca de 95% abaixo dos níveis de 2019. Agora, há indicações de que o tráfego está melhorando lentamente. Contudo, os níveis de tráfego (medidos em passageiros-quilômetros pagos transportados, ou RPKs) de 2020 devem cair 54,7% em relação a 2019. O número de passageiros cairá pela metade, atingindo 2,25 bilhões, quase igual aos níveis de 2006. A capacidade, no entanto, não pode ser ajustada com tanta rapidez, com queda esperada de 40,4% para o ano.
As receitas do transporte de passageiros devem cair para US$ 241 bilhões (bem abaixo dos US$ 612 bilhões em 2019). Essa redução é maior do que a queda na demanda, reflexo da redução esperada de 18% nos rendimentos do transporte de passageiros, enquanto as companhias aéreas tentam incentivar as pessoas a voar novamente com estímulos por meio de promoções. As taxas de ocupação devem apresentar uma média de 62,7% em 2020, cerca de 20 pontos percentuais abaixo da alta recorde de 82,5% atingida em 2019.
Os custos não estão caindo tão rápido quanto a demanda. As despesas totais de US$ 517 bilhões estão 34,9% abaixo dos níveis de 2019, mas as receitas sofrerão queda de 50%. Os custos unitários não relacionados a combustível terão aumento acentuado de 14,1%, pois os custos fixos serão distribuídos entre um número menor de passageiros. A baixa utilização de aeronaves e assentos resultante das restrições também contribuem para o aumento dos custos.
Os preços de combustível representam algum alívio. Em 2019, o combustível de aviação foi em média US$ 77/barril, enquanto a média prevista para 2020 é de US$ 36,8. Estima-se que o combustível represente 15% dos custos gerais (em relação a 23,7% em 2019).
O transporte de carga é um aspecto positivo. Em relação a 2019, o total de toneladas de carga transportada deve cair 10,3 milhões de toneladas, atingindo 51 milhões de toneladas. Porém, espera-se escassez de capacidade de carga devido à indisponibilidade de transporte de carga no porão de aeronaves de passageiros (agora paradas), aumentando as taxas em cerca de 30% durante o ano. As receitas de transporte de carga atingirão US$ 110,8 bilhões em 2020 - quase um recorde - bem acima dos US$ 102,4 bilhões em 2019. Como parte da receita do setor, o transporte de carga contribuirá com cerca de 26%, acima dos 12% registrados em 2019.
Desempenho por região em 2020
Todas as regiões sofrerão perdas em 2020. A crise assumiu uma dimensão semelhante em todas as regiões do mundo, com quedas de capacidade em torno de 10 a 15 pontos percentuais ou mais, além da queda acima de 50% na demanda de passageiros.
Perdas menores em 2021
Com as fronteiras abertas e a demanda em ascensão em 2021, o setor deve reduzir seu prejuízo para US$ 15,8 bilhões, com margem de lucro líquido de -2,6%. As companhias aéreas estarão em fase de recuperação, mas ainda bem abaixo dos níveis pré-crise (2019) em muitas métricas de desempenho:
- O total de passageiros deve subir para 3,38 bilhões (níveis de 2014 aproximadamente, quando foram registrados 3,33 bilhões de viajantes), bem abaixo dos 4,54 bilhões de viajantes em 2019.
- A receita total deve ser de US$ 598 bilhões, 42% acima da receita de 2020, mas ainda 29% abaixo dos US$ 838 bilhões de 2019.
- Os custos unitários devem cair com os custos fixos distribuídos entre um maior número de passageiros do que em 2020. Mas as medidas contínuas para o controle do vírus limitarão os ganhos, reduzindo as taxas de utilização de aeronaves.
- O aumento no transporte de carga permanecerá. As receitas de carga atingirão o recorde de US$ 138 bilhões (aumento de 25% em relação a 2020). Isso representa cerca de 23% da receita total do setor, quase o dobro da sua colaboração histórica. Espera-se que a demanda por carga aérea continue forte quando as empresas se reabastecerem no início da recuperação econômica; por outro lado, o retorno lento da frota de aeronaves de passageiros deve limitar o crescimento da capacidade de carga, mantendo os rendimentos de carga estáveis nos níveis de 2020.
- Os preços de combustível de aviação devem subir, atingindo a média de US$ 51,8 por barril no ano, à medida que a atividade econômica global e a demanda por petróleo aumentarem. Embora isso aumente a pressão nas companhias aéreas, o preço por barril está no nível de 2016 (US$ 52,1), além de ser o mais baixo desde 2004 (US$ 49,7).
"As companhias aéreas ainda estarão financeiramente frágeis em 2021. A receita de passageiros será mais que um terço menor que em 2019. Além disso, as companhias aéreas devem perder cerca de US$ 5 por passageiro transportado. A redução das perdas será obtida com as fronteiras reabertas, levando ao aumento do volume de viajantes. Operações de carga robustas e preços de combustível comparativamente baixos também impulsionarão o setor. A concorrência entre as companhias aéreas será sem dúvida ainda mais intensa, criando fortes incentivos para os viajantes voltarem a voar. O desafio para 2022 será transformar as perdas reduzidas de 2021 em lucros para que as companhias aéreas possam pagar suas dívidas resultantes dessa crise terrível", afirma de Juniac.
Recuperação repleta de desafios
Mesmo com prejuízos significativamente menores em 2021 em relação aos níveis de 2020, a recuperação do setor deve ser longa e desafiadora. Alguns fatores incluem:
Níveis de dívidas
As companhias aéreas começaram 2020 com situação financeira relativamente boa. Após uma década de lucros, os níveis de endividamento eram relativamente baixos (US$ 430 bilhões, quase metade da receita anual). Medidas fundamentais de alívio financeiro dos governos impediram a falência das companhias aéreas, mas aumentaram suas dívidas entre US$ 120 bilhões e US $ 550 bilhões, o que representa cerca de 92% da receita estimada para 2021. Outras medidas de alívio devem ajudar as companhias aéreas a gerar mais capital de giro e estimular a demanda, em vez de aumentar ainda mais a dívida.
Eficiências operacionais
As medidas definidas globalmente para a retomada do setor, durante o período em que vigorarem, devem mudar significativamente os parâmetros operacionais. Por exemplo, o distanciamento físico durante o embarque/desembarque, a limpeza mais detalhada e a verificação mais intensa da cabine aumentarão o tempo das operações, reduzindo a utilização geral da aeronave.
Recessão
A profundidade e a duração da recessão futura terão impacto significativo na confiança dos consumidores e nos negócios. É provável que a demanda reprimida leve a um aumento inicial no número de viagens, e para que esse aumento seja mantido, podem ser necessárias promoções de preços, que terão um impacto nos lucros.
Confiança
Provavelmente, os padrões de viagem devem mudar. A retomada das viagens aéreas deve ser progressiva, começando pelos mercados domésticos, seguida pelos regionais e, por fim, os mercados internacionais. Pesquisas sugerem que cerca de 60% dos viajantes estarão ansiosos para retomar as viagens em alguns meses depois que a pandemia estiver sob controle. A mesma pesquisa também indica uma porcentagem ainda maior de viajantes que devem retomar suas viagens assim que sua situação financeira pessoal se estabilizar (69%) ou se medidas de quarentena estiverem em vigor (mais de 80%).
"As pessoas vão querer voar de novo, desde que tenham confiança na situação financeira pessoal e nas medidas tomadas para manter os viajantes seguros. Não existe um guia para a recuperação da COVID-19, mas o plano de retomada "Takeoff" da OACI descreve medidas globalmente harmonizadas estabelecidas por especialistas de saúde e do setor de aviação. É importante que o setor e os governos observem esse plano para que os viajantes se sintam confiantes quanto à sua segurança. Esse será um bom começo. E, dependendo da evolução da pandemia, do conhecimento sobre o vírus e da ciência, o setor e os governos estarão mais preparados para uma resposta coordenada globalmente. Isso inclui a revogação de medidas de restrição quando for seguro. Isso dará às companhias aéreas espaço para respirar e recuperar a demanda e compensar os resultados ruins", afirmou de Juniac.
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